quarta-feira, agosto 08, 2007

Costa Rica, Parte I : De Novo Hamburgo a Playa Hermosa.

Caminhando em direção ao balcão de chek-in, no aeroporto de San José capital da Costa Rica. Sentia a cada passo as ferroadas em meus pés cortados e machucados, lembrança das bancadas de pedra e coral que haviam ficado para trás. Os braços mal suportavam o peso das bagagens. As pernas se moviam com lentidão. Cada pedaço de meu corpo sentia algum tipo de dor. A pele havia se tornado uma mistura de protetor solar, areia e hipoglos. Os lábios rachados, os olhos ainda ardiam. Tudo graças a seções de surf intermináveis, a mais de 6 horas por dia dentro da agua. Você lembra quando era criança ia ao mercado e la tinha aquele pirulito multi-colorido igual ao do Chavez, você sabia que não ia conseguir comer tudo, mas queria com toda vontade aquele pedaço do paraíso, quando mais nada interessava, quando todos seus desejos e sua atenção eram somente para aquele doce a sua frente. Foi mais ou menos assim que me senti nesta trip, nada mais interessava, o dólar, a faculdade, o trabalho, a crise aérea, a pousada, o Grêmio, somente nós 3, eu, minha namorada e as ondas. Sentia que tudo tinha valido muito a pena, me sentia melhor, me sentia mais feliz, se tivesse o controle remoto mandava voltar a fita a 8 dias atrás.

Estávamos em nosso apartamento, eu a Paty, minha namorada e companheira de viajem e de mar. Terminávamos de arrumar as bagagens, conferíamos os últimos detalhes, passaporte, dólar, pranchas, atestados de vacina, remédios, pés de pato, botinhas, lycras, parafina, as malditas chaves de quilhas, jogo extra de quilhas, lesche extra... Estava tudo certo, a sogra preparava um cachorro quente, para acabar com a fome. Logo meu amigo Rodrigo que iria nos levar no aeroporto chegou.

A incerteza sobre nosso voo até São Paulo era grande, pois em meio ao caos aéreo que nosso país atravessa e apenas 2 dias antes ter ocorrido o maior desastre aéreo do Brasil, com a mesma empresa com a qual voaríamos e para o mesmo destino, deixava o clima bastante tenso. Logo que chegamos ao aeroporto Salgado Filho (Porto Alegre), fizemos o check-in o vôo estava confirmado, mais de 1 hora de atraso até decolarmos, avião lotado e quando pousamos em São Paulo palmas para o capitão. Logo pegamos nossa conexão para o Panamá, mais sete horas de voo até lá, depois mais uma conexão de 1 hora e meia até nosso destino a Costa Rica.

Enfim pisávamos em solo Costa Riquenho, a primeira impressão foi o calor, saimos de um frio de 5 graus do Rio Grande do Sul, para ótimos 30 graus em San José. Desembarcamos, imigração, passaporte, pranchas, bagagens tudo certo. Na saída do aeroporto uma confusão, agentes de viagens esperavam levantando plaquinhas com os nomes dos passageiros, não encontramos nenhuma com nossos nomes, resolvemos sair daquele tumulto, tentei explicar nossa situação a um agente que procurava uns passageiros que não éramos nós, arranhando muito mal arranhado meu espanhol, consegui conversar com o homem, ele gentilmente passou um radio para nossa agência e logo uma van veio nos pegar. Em meio a um trânsito confuso em 5 minutos chegamos a locadora de veículos para pegarmos o carro que tinhamos alugado de Porto Alegre. Tudo muito bem organizado na locadora, fomos muito bem atendidos tanto na chegada quanto na saída, em geral o povo Costa Riquenho é bastante gentil e atencioso, a caminhonete 4x4 me surpreendeu positivamente, estava esperando algo muito pior, mas me enganei pois o veículo estava em ótimo estado tento de lata como de mecânica.

Tocamos as malas para dentro, pranchas pressas em cima da caranga e pegamos a estrada rumo ao nosso primeiro destino Playa Hermosa, pacífico central, na região de Jacó. Demoramos um pouco para achar a saída de San José, pois em toda a Costa Rica embora exista placas de sinalização é comum se perder e errar o caminho e conosco não foi diferente. Erramos um cruzamento, em uma estrada já longe da capital e quando vimos estávamos indo em direção e fronteiro com a Nicarágua, tivemos que dar um volta por outra estrada para não precisar volta a San José, enfim rodamos uns 80 km a mais para chegarmos a Jacó, chegamos lá no meio da tarde e fomos dar uma conferida no mar, a ansiedade era grande, mais de 16 horas entre vôo e aeroporto, mais 3 horas de carro e estávamos em frente ao oceano Pacifico. Na minha mente a imagem era única, Mar grande, liso, tubular com vento terral. Mas que nada, decepção total, mar mexido, ondas de 25 centímetros, vento maral. Ter ficado a noite sem dormir, depois dirigir por 3 horas, não ter onde tomar banho e mal conseguir escovar os dentes, se perder em um pais onde você mal consegue se comunicar, nada disto tinha sequer chegado perto de me abalar, mas quando olhei aquele mar... respirei fundo, parece Imbé em dia ruim. Comentei com a Paty, como a praia era bonita ela concordou balançando a cabeça e pulamos dentro do carro, afinal aquele não era nosso destino, ali era Jacó e não Hermosa, embora Hermosa ficasse apenas 8 Km mais ao sul.

Dei a volta e pegamos pela primeira vez a carreteira do Pacífico, sobe e desce muita curva e em menos de 15 minutos avistamos ainda da estrada Hermosa, a praia é extremamente longa, mal conseguíamos enxergar o final da praia, a areia negra que se estende por toda a praia da um tom de algo desconhecido de algo diferente, e vimos o que queríamos, uma quantidade incontável de ondas quebrando por toda a praia, 1 metro talvez 2, acelerei, tinha a sensação de que finalmente tinha chegado em algum lugar. Sorriso largo no rosto, todos os problemas haviam ficado para tras, avistamos uma plaquinha “CABINAS $10”, é ali, um americano nos atendeu, não quis nem olhar o quarto, já fui pegando as bagagens, atiramos as coisas para dentro do quarto, passei parafina em tempo recorde na prancha, e fomos para a praia.

Uma faixa de 15 metros de areia negra, separa o mar das pequenas entradas para a praia, a areia é uma descida até o mar, as ondas quebram extremamente na beira, você vê o pessoal pegando onda quase que de cima, ondas fáceis e gordas de 1,5 metros faziam a alegria da galera, quebravam tanto para a direito como para a esquerda. Enfim entramos, a entrada no mar se faz a “la havaiana”, dois passos na agua e já não da mais pé, você fica parado na areia, esperando vir uma espuma, sai correndo a salta por cima dela, já cai deitado sobre a prancha e remando forte, para que a próxima onda não te devolva a areia. Se tudo der certo e sempre dá em 20 segundos você estará sentado na prancha esperando a próxima série.

Surfamos até o anoitecer, no dia seguinte o mar tinha baixado um pouco, fizemos uma seção logo cedo e rumamos para nosso segundo destino, Playa Dominical. Hermosa foi uma boas vindas, disparado foi o mar mais playground que pegamos na viagem...


Continua em breve, De Hermosa a Dominical...


Mamon, frutinha que nos acompanhou durante toda a viagem, embora tenha uma aparência estranha tem um ótimo sabor.